Sabe aquele típico post pleonástico? É este. Estou escrevendo este post para "me auto-explicar-me para mim mesma." Para ele ficar escrito aqui no intuito de que eu possa voltar e lê-lo várias vezes e entender o que se passou. Não, eu não me separei do Homem dos Olhos Cor de Gasolina, continuamos firmes e fortes, um com o outro, o outro com um. Mini não sofreu um acidente terrível (embora quase tenha me matado quando quase não passou de ano). Eu não passei seis meses doente...mas, eu sumi.
Eu sumi totalmente. Sumi do blog, do msn, do twitter, do facebook e seus joguinhos que amo de paixão, do meu telefone, das minhas amigas, da minha família. Eu emudeci literalmente por pelo menos 2 ou 3 meses inteiros.
Eu, Baratinha, funciono assim: quando tudo dá certo eu estou ótima, quando dá errado eu viro a encarnação absurda e insuportável de Pollyana, mas quando algo dentro de mim me incomoda, eu emudeço.
Eu tomei uma decisão em 2009, eu decidi parar de ensinar para todo o sempre amém. Perdi a esperança na máquina de ensino que virou máquina de dinheiro. Fiquei velha demais para ver uma geração que está se perdendo por conta dos pais em conjunto com a ambição das escolas e ainda da falha absurda do sistema. Enfim, eu decidi, sozinha, e fui apoiada, muito, por marido, filha, mãe, amigos, leitores e todos os que me rodeiam.
Diferente do que eu imaginava ninguém me olhou de lado, ninguém me chamou de louca e eu ouvi tanto "boa sorte" que já me sentia o próprio trevo de quatro folhas. Em julho (época que parei de escrever) eu decidi que já estava mais do que na hora de Mini parar ficar pulando entre a minha casa e a casa da minha mãe e que estava na hora dela assumir o quarto que sempre a pertenceu em definitivo. Junto com isto decidi que eu precisava trancar a faculdade de letras (que se arrasta em passos lentos) para saber o que eu realmente queria da minha vida.
Aí uma sucessão de infelicidades aconteceu ao mesmo tempo. Lógico que quando eu decidi parar de trabalhar eu tinha um plano B arquitetado: Para os que não sabem (ainda) eu faço traduções para uma editora, além de pegar traduções particulares (de textos, teses, artigos). Mas o certo MESMO sempre é a editora, afinal, eles são uma empresa. O que eu não contava é que no final de 2009 haveria uma recessão, e como resposta a isto a editora travaria todas as traduções e daria prioridade de lançamento aos livros nacionais para poder sentir como o mercado se comportaria. Pura questão de dinheiro mesmo, um tradutor recebe o dobro de um revisor, se eu corto a tradução de um livro seguro o dinheiro caso as coisas fiquem realmente pretas. Se você juntar esse fato com o fato de que eu havia acabado de pedir demissão de TODAS as escolas que ainda ensinava, percebeu o que aconteceu né?
Não, não foi só a falta de dinheiro, foi a falta de direção. Parei de trabalhar, parei de estudar, e parei de trabalhar II, em outras palavras, virei dona-de-casa-totalmente-dependente-do-marido. E isso caros amigos, para uma pessoa que começou a trabalhar aos 18 anos sem ter necessidade, só para poder abocanhar um pouquinho de independência, é a morte.
Eu fiquei suspensa sabe? Quando Mini precisava de alguma coisa e eu não tinha dinheiro, minha mãe recorria, ela queria ajudar, claro, mas isso me fazia um mal imenso, eu tinha acabado de dizer "agora sua casa é só aqui" e a minha mãe continuava monetariamente segurando as pontas da guria. E gente, isso dói. Dá nó nas entranhas.
O marido, coitado, de repente se viu casado com um zumbi. Eu já tenho insônia por vida, sou mais da noite do que do dia, embora adore o sol. Mas eu virava noites enlouquecidamente...pensando. Tinha dias que tudo o que eu queria era parar de pensar, nem que fosse por 5 minutos no dia, mas a cabeça não respondia, fazia o que queria, e o que queria era pensar. Então pensava, pensava em saídas, no "projeto moda" que andou um pouco e parou no tempo por falta de....dinheiro para investimento. Pensava que eu talvez tivesse que voltar a ensinar. E isso pessoas, aterrorizava-me. "Três para trás, seis para frente." era o que eu me repetia, mas parecia que os três passos para trás haviam sido vinte, e andar mais quarenta para frente me dava pavor.
Entenda, não faltou comida em casa, não atrasamos nenhuma conta, havia gasolina para levar e pegar Mini na escola. Mas eu, EU, não tinha dinheiro. E não tinha de onde tirar dinheiro. E não tinha vontade de voltar a ensinar para capitalizar de novo. Porque eu sei o que é ensinar, ensinar é que nem cachaça, quando pega na veia era uma vez, e eu sei que se eu pisar em uma sala de aula de novo eu vou deixar todos os meus sonhos e vontades para trás e me aposentarei como a "tia." Se eu ceder e voltar para uma escola, adeus, serei professora ponto final. E me sentirei derrotada, pois não corri atrás os suficiente ainda.
O que aconteceu comigo foi mais ou menos isso: eu sumi porque eu estava com dúvidas, e quando você externa essa dúvida invariavelmente dicas, ajudas, conselhos, pitacos virão das pessoas que lhe amam, lhe querem bem, e querem lhe ajudar a encontrar o caminho de novo. E eu, dentro da minha cabeça pensante, não os queria - os conselhos - porque sei que se eu falhar nessa minha nova fase, eu vou tirar o corpo fora e culpar o conselheiro, eu queria, de verdade, chegar à uma conclusão sozinha, uma conclusão que fosse só minha, que caso eu venha a falhar eu só possa culpar à mim mesma e mais ninguém. Eu não queria me deixar levar, pela primeira vez na vida eu queria me levar. Eu queria me reencontrar e me achar de novo. Sim, porque nós mudamos, e eu mudei, mas não me toquei da mudança e não me reconhecia. Eu precisava achar o meu caminho sozinha.
E digo com todo orgulho em mim, eu achei. Claro que o marido perfeito me ajudou; toda vez que eu dizia: "Eu acho que vou ter que voltar para escola," ele replicava: "De forma alguma, agora que você começou a fazer o que gosta te proíbo de parar." Óbvio que Mini me ajudou, a cada sorriso e abraço que me deu.
O meu caminho, o meu projeto, segue em frente. Devagar, porque sou perfeccionista e não quero lançar nada pela metade (e porque eu ando de salto e não dá para correr).
Estou voltando para a faculdade, pois aprender é sempre preciso, mesmo que letras não signifique mais, para mim, ensinar.
Estou voltando para casa, mesmo sem nunca ter saído de dentro dela.
Estou voltando para os braços da minha família, embora eles nunca tenham deixado de me abraçar.
Estou voltando a sorrir.
E estou voltando a escrever no blog, mesmo que o primeiro post do ano seja um tanto quanto melancólico. Mas como sou semi-bipolar o próximo será cheio de alegrias e risadas.
E estou que nem a mocinha da imagem, olhando por uma janela, só que agora, eu vejo o mundo.
E porque o Milton Nascimento foi o ÚNICO cantor brasileiro que me fez chorar copiosamente em um show, pois a mistura da letra com a voz deste homem é de acabar com o emocional de qualquer ser humano, é que escolho essa música como minha no ano de 2011. E que este ano venha matando, porque eu, agora, estou pronta.
Caçador de Mim
Composição: Luís Carlos Sá e Sérgio MagrãoPor tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim
Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim