Velhinhos, velhinhas, velinhas

Ser balzaca não é uma coisa muito fácil, aviso logo àquelas que estão para chegar aqui, e olha que estou sendo singela e amiga hein?

O primeiro sinal de que as coisas não são mais como antes é a pele, ahhhh, você sabe que chegou aos 30 porque quando acorda não tem só cara de sono e o nariz avermelhado, de brinde você ganha a marca do travesseiro de um lado do rosto e a marca do lençól permeando todo o resto do corpo, enfim, você acorda devidamente texturizada, se tacar uma tinta a base d'água e passar uma lixa em cima dá uma pátina na certa. Aí, não bastasse levantar e dar de cara com aquela pessoa "semi-patinada" no espelho, você percebe que aquele espaço que fica entre os seus peitos está bem enrugadinho, claro, isso vai sair ao longo do dia, quando os peitos pesarem junto com a gravidade para o lugar que eles NÃO deveriam estar, mas a visão do "enrugatinho peitorífico" é um gostinho do que ainda está para vir, no dia em que o enrugadinho não for mais embora e ficar lá para todo o sempre, amém. É aterrorizante.

Aí vem o problema crônico com as roupas. Aquelas que você costumava usar, que no meu caso incluíam roupas estilosas, vários decotes, estampas variadas e muita roupa "da terra" (que não significa usar cáqui, mas sim algumas rendas, alguns bordados - sou do nordeste né gente), além de alças finas, e tudo curto começam a brigar com você (mas não necessariamente o curto com o decotado e o justo juntos viu gente?). Não, VOCÊ começa a brigar com elas. Você se sente "imatura" o suficiente para vesti-las, se sente "segura" o suficiente para ousar, se sente "jovem", mas quando você VESTE a roupa parece que ela não "orna" com a sua cara de balzaca. Você se sente de um jeito moleque maroto travesso mas o espelho te MOSTRA uma casca um pouco mais para passada do que para madura e a pessoa que você vê no espelho parece não condizer com a pessoa que quer usar aquele vestido prateado decotado de alcinhas MARAVILHOSO que você gastou OS OLHOS DA CARA uns bons 5 anos antes para conseguir ter no seu armário. Os braços já não são mais os mesmo, e alça fina por mais magra que você seja parece que não ajuda muito em nada. O suvaco começa a sofrer o efeito Vera Fischer. Então você começa a se sentir compelida a comprar novas peças brigando sempre para não parecer matronal demais, velha demais ou....a sua mãe demais. Eu me pego perguntando se não estou parecendo uma babaquinha com as roupas que estou usando, e olha que nunca fui de perguntar muito a opinião dos outros com relação ao que visto.

Já não bastasse a crise de identidade (espelho x íntimo) seu metabolismo dá um voleio e você começa a perceber gordurinhas em lugares nunca dantes vistos. A pele (aquela mesma que texturiza enquanto você deveria estar tendo um sono de beleza) não ajuda em nada, aí a barriga começa a ficar com aquele aspecto de cimento recém colocado, e ela começa a pular junto com os peitos quando você corre. Te digo uma coisa, cara amiga, a sensação não é lá das mais animadoras. A minha que é branca que só leite tá que só um manjar de côco, só falta a calda de ameixa. O piercing do umbico foi retirado para não ficar parecendo a ameixa, porque né, já basta o pudim de côco não preciso colaborar colocando a ameixa em cima. As celulites parecem preás, reproduzem-se à velocidade da luz, e você começa a sentir certas dores no corpo, especialmente quando você resolve usar aquele seu salto maravilhoso que comprou anos atrás e que costumava ir com ele até comprar pão na padaria...ai meu joelho.

Aí você começa a perceber que nem todas nós somos a Madonna, que pilates custa os olhos da cara e mais uns 3 dentes da frente, e que o tempo que deveria ser vasto não sobra para você ir para a academia para começar, antes tarde do que nunca, a reparar os errinhos que o tempo vai cometendo. Então você, que é uma criatura consciente, resolve ir na endocrinologista. Vai para ver se suas taxas, que antes para você só significava um odioso valor a mais no condomínio, estão ok.

Então a endocrinologista, que não quer nem saber se você vai tentar um suicídio depois disso, diz que você está com sobrepeso, e que isso vai fazer mal às suas articulações. Não bastasse o ódio eterno de ter que ouvir de uma pessoa, que nem a sua mãe é, que você está é gorda minha filha, você sai da endocrinologista com uma dieta de 1.500 cal/dia.

Sim, eu visitei a endocrinologista ontem e descobri que além de envelhecendo, agora vou ter que passar FOME. Nada contra virar uma sílfide, mas pô minha senhora, 1.500 cal? Não enche nem o buraco do meu dente. Leite desnatado? Para mim tem gosto de água suja, e olha que eu ADORO leite. A sopa não pode ter arroz, nem batata e muito menos caldo Knorr ou macarrão, ou seja, vou ter que tomar caldinho de velhinho no hospital. E cortou o açúcar, assim, sem dó nem piedade, disse com todas as letras: AÇÚCAR NÃO. Eu não curto doces, nunca curti, sou da turma da coxinha (embora RARAMENTE faça frituras ou use óleo na cozinha), mas eu nunca me adaptei com adoçante, nenhum, de marca alguma, odeio, pavor, nem nada zero eu consigo tomar porque eu acho que tem gosto de adoçante. Eu não entupo meu suco de açúcar, uso cristal porque é mais saudável, mas tirar o meu açúcar foi golpe baixíssimo, com requintes de tortura chinesa.

Para aliviar ela te dá um papelzinho com frases de efeito do tipo:"Não existem remédios para a cura da OBESIDADE, mas sim, para axiliá-lo a mudar seus hábitos alimentares." E eu, que andava me sentindo gordinha, agora tô me sentindo uma obesa mórbida. Se isso era para levantar meu astral me fez ter vontade de comer uma panela inteira de brigadeiro (e olha que eu não gosto de doces hein?). Tive ímpetos de me atirar embaixo do primeiro ônibus de linha suburbana que passasse na minha frente. Para terminar a entrevista, ela olha bem dentro dos meus olhos e diz: "Não tenham em casa o que NÃO PODEM comer" (sim, no plural, o marido foi comigo e também saiu de lá com dietinha, a dele, 2.000 calorias/dia, eu tô com pena do marido, de verdade). Dita esta frase marido me olha com olhar de cumplicidade. As duas antas fizeram a feira do mês 4 dias antes, e é lógico que dentro de todos os vários itens que compramos apenas QUATRO batem com a lista (arroz integral, pão integral, requeijão light e queijo branco). Nos despedimos da nossa nova nazista odiada, os dois cabisbaixos, tristes com a fase "Etiópia Now" que começará na nossa residência quando marido se vira para mim e fala a frase da semana:

"E AGORA AMOR, COMO FAZ? COMEMOS TUDO QUE COMPRAMOS DE UMA VEZ SÓ?"

Mais tarde, marido e eu nos encontramos em casa, enquanto eu preparava uma pizza que comprei na feira do mês ele já entra dizendo: VOU ME ENTUPIR DE WAFFER PIRAQUÊ COM LEITE COM NESCAU! Eu informo que tô com uma pizza no forno e temos uma crise de riso.

São nessas horas que casar é um grande negócio.

Beijos e Lambidas