O casamento da Dona Baratinha - Parte IV

A Saga do Vestido, o Cabelereiro e a Festa

Depois de passar umas 3 horas chorando compulsivamente com o Arthur me ligando ensandecido, a Mayra quase surtando junto e a minha mãe me olhando com cara de dó sentada no sofá ao lado, percebi que não ia brotar um novo vestido das minhas lágrimas; então levantei, tomei um banho, lavei os litros de lágrimas que se esparramavam pescoço abaixo, coloquei um reboco na cara (claro, porque nunca que eu ia sair de casa parecendo o Rudolf), vesti uma roupinha básica, olhei para a cara da minha mãe e, com a voz de uma mulher decidida e independente eu disse:

- Vou sair e achar meu vestido na rua!

Minha mãe ficou me olhando com cara de quem não estava entendendo lá muita coisa, a minha sogra (que estava hospedada lá em casa) ficou me olhando com cara de "olha só a louca que o meu filho foi escolher para casar" e, sem sentir pena de minha própria pessoa, calcei meu tênis e fui à luta. Bem próximo ao apartamento da minha mãe tem uma galeria com umas 4 lojas de moda feminina, era dia 03 de janeiro, e eu me perguntando ONDE depois de um REVEIÃO eu ia achar um vestido branco bonito o suficiente, simples o suficiente (porque normalmente as sobras brancas pós dia 31 são vestidos de festas mais formais), que não fosse esvoaçante (porque o local que foi a festa VENTA HORRORES, e a noiva ficar mostrando a bunda para os convidados em plena festa de casamento pode acarretar em uma separação antes do casamento) e que fosse, lógico, a minha cara.

Na primeira loja, nada de branco, na segunda loja só shorts e camisetas, afinal, moro em Recife, e os povos daqui costumam romper o ano na praia, na terceira, um vestido que não passava nem pelos meus braços (estilo moda para anoréxicas ou menores de 12 anos), na quarta loja, NADA de branco, aí cheguei na quinta loja. Expliquei o meu drama (incrível como as vendedoras sentem sua dor), e a moça puxa da arara um vestido...calma aí, não era um vestido...cheguei mais perto para ver melhor...gente, era O MEU VESTIDO DE CASAMENTO! Lembra quando eu disse que desisti de comprar o guipir porque era muito caro? Pois este vestido era TODO em guipir, tomara que caia, com uma faixa de cetim no busto e uma faixa verde musgo de tafetá em volta da cintura. Lindo, meio retrô, de saia rodada mas o tecido pesado demais para ficar dando lance na festa. Fui para o provador e parecia que o vestido tinha sido costurado para as minhas medidas, aí, quase que eu começo a chorar de novo, mas antes de começar a chorar de alegria eu tinha que perguntar o preço para ver se eu chorava de alegria ou desespero. Eu lembrava MUITO BEM quanto custava o metro daquele tecido maravilhoso de algodão puro todo bordado. Perguntei meio hesitante e a moça disparou: CEM REAIS. Eu fiquei com aquela cara de Windows travado: PÃN! Cuma? E a moça repetiu: CEM REAIS. Se eu usasse marcapasso meu povo, ali mesmo eu tinha embarcado. Moça, agarra este vestido e não larga...porque esse vestido é MEU sabe?

Cheguei em casa uma hora e meia depois RADIANTE. Com MEU vestido de casamento na mão, feito por encomenda mental para uma marca que eu até hoje não sei o nome e entregue em uma loja AO LADO da casa da minha mãe. Enfim, problema do vestido, resolvido.

No dia do casamento, a tal costureira podre de chique me ligou: Barata, tá faltando um metro de tule para terminar teu vestido. Háhá...mênha senhôra, eu caso hoje sabia? Estou completamente sem tempo, estou indo para o meu cabelereiro e vou mandar buscar SÓ o vestido de Mini, quanto ao meu, fiquei para você e faça bom uso. A vingança veio a galope e eu nem pedi.

Enfim, fui ao cabelereiro que é meu amigo de longa data. Mini foi comigo e fez uma escovinha com o cabelo todo arrebitado para fora e saiu de lá se sentindo a bala que matou Kennedy. Mayra chegou tipo, meia hora depois de mim e eu já estava cheia de rolinhos no cabelo (isso depois de lavar, secar, enrolar), tirou umas 10 fotos minhas A CARA da Dona Florinda, fotos estas que estão terminantemente proibidas de circular na net para manter o mínimo de integridade que ainda me resta. Daí que a Mayra faz o cabelo e diz que vai a pé para o hotel que fica há uns 3 minutos do cabelereiro, e meu cabelereiro: HEIN? A PÉ? Vai cagar toda esta escova ABSURDA que eu dei no teu cabelo? Nã nã ni nã não, tome a chave do meu carro, volte para o hotel e quando for sair para o casamento passe aqui e deixe o carro de volta. E neste momento Mayra deve ter tido vontade de ter 20 filhos com esse homem tão gentil. Enquanto isso tufos de flores eram anexados ao meu cabelo já solto para fazer as vezes de uma grinalda natural . Mais natural do que isso só se eu usasse uma melancia na minha cabeça. Voltei para casa morrendo de medo de amassar as flores no carro, a minha irmã já estava me esperando em casa para me ajudar a fechar o vestido. Aí começou a minha agonia. Minha avó mandou o motorista dela me pegar em casa, e o Seu Nelson, minha gente, o seu Nelson é uma pessoa que parece sempre ter acabado de ingerir um vidro de Lexotan. Ele foi até o lugar do casamento dirigindo em velocidade de cruzeiro. Quem visse ia achar que eu estava procurando apartamento para alugar, sério. E eu LOUCA para chegar logo e ver meu amorrr!!! Quando chegamos ao lugar do casamento o homem não abria a porta de jeito nenhuma para eu descer e eu lá dentro do carro começando a suar: SEU NEÉÉÉÉÉÉLLLSOOONNNN EU QUERO DESCEEEEERRRRR!!! E ele lá dentro do carro: Ahn? SEU NÉÉÉÉLLLSOOOONNN TOMMMAAA UM GARDENAAAALLLL, eu quero DESCERRRRRRR!!! Aí alguém me vê, traz Mini, e eu já com vontade de chorar, entro com Mini no recinto e lá está ele, de pé, calça risca de giz, camisa branca, chapéu de malandro e adidas no pé....ele dá um sorriso, vem andando devagarzinho, e eu com o buquê na mão com vontade de engolir cada copo de leite do arranjo, vem chegando com aquele sorriso lindo, e agora só me restaria comer as flores miudinhas, porque à esta altura já não ia mais ter copo de leite sobrando...me pega pela cintura e me dá aquele beeeeijooooo...que nem no dia em que nos encontramos no aeroporto no Rio, que eu não sabia se sentava no carrinho, se dava a volta do carrinho. Senti E-XA-TA-MEN-TE o que senti 4 anos antes. Esse, gente, é o HOMEM DA MINHA VIDA, não tem jeito não, ele que me aguente.

Chegam pessoas de todos os lados, vamos andando, chama o amigo advogado: Ei Cláudio, você é que vai casar a gente! Lá vem o amigo, ele fala um monte de coisa linda que é óbvio que eu não entendo nada e nem muito menos lembro, aí o povo: discurso! discurso! , e o Arthur começa a falar de tudo que passamos juntos, e começa a lembrar lá do começo, e a dizer que não se arrepende de nada que fez e que faria tudo de novo, e tipo, ele começa a chorar, A FESTA TODA começa a chorar...eu não, alguém tem que ser o homem desse relacionamento né gente? Eu sou uma dama, vontade zero de borrar a maquiagem, comecei a chorar para dentro sabe? Eu estava tão extasiada que não chorei, me emocionei, e na hora que pediram para eu falar algo, a minha frase célebre foi: ATÉ QUE ENFIM!!! HAHAHAHAHAH, é, essa sou eu, um ser torto, e todo mundo que estava chorando começou a gargalhar, e nem de nariz de palhaço eu estava. Beijos, beijios, aplausos, vamos dançar uma valsa?... NÃÃÃOOO...samba de gafieira, por favor, e foram tiradas as fotos mais lindas, e estavam presentes as pessoas mais lindas, e outras tão lindas foram lembradas porque não puderam estar lá, e os amigos tão lindos riram lindamente, dançaram lindamente, beberam fugazmente, e dividiram comigo um dos momentos mais lindos da minha vida. Menção honrosa à frase do meu ex-marido quando chegou (atrasado) à festa: Pensei muito em não vir porque o último casamento seu que eu estive presente não deu certo, aí achei que o azar podia ser eu. HAHA Dancei com Mini, puxei minha mãe para dançar Like a Prayer comigo como quando eu tinha 14 anos e passava horas dançando essa música na frente do espelho, bebi horrores e no final, quando só restávamos nós e mais 3 amigos, fomos todos bêbados e felizes fazer um lanche na Pin Up, só que quando chegamos lá encontramos 1/3 da festa, e aí, fizemos outra festa...e quando chegamos em casa ELE me levantou nos braços e agradeceu por tudo...e eu sei...ahhh eu sei...ninguém precisa me dizer...depois que ele me olhou daquele jeito....meio bêbado....meio sóbrio...meio emocionado...EU SEI...que nós vamos viver felizes...PARA SEMPRE.