quinta-feira, 20 de maio de 2010

Viajar é precisoo, viver não é precisooo.

Sabe o Cine PE né? Tudo muito lindo, tudo muito charmoso, trabalhei que só uma cachorra mas tudo bem, amei. Três dias em casa e recebo uma ligação:

Voz do outro lado da linha: Barata, preciso de uma produtora de figurino para um comercial de um órgão do governo (ela disse o nome mas eu não vou dizer para vocês), são sete dias viajando pelo agreste e pelo sertão, você topa?

Eu: Claro!

Fui no acervo da produtora, separei dois super malões de roupa (nunca se sabe quando o diretor vai achar que verde é melhor que amarelo e que aquele vestido não é exatamente o que ele quer). Mais uma mala pequena com as roupas da repórter (porque nunca que eu ia juntar tudo né? Na hora do aperto ter a mala da "atriz principal" separada é sempre um luxo de organização e poupa um teeeempo lindo.) Então no total eu tinha: Duas malas oversized, uma mala mini, uma maletinha com crepe, linha, agulha e tudo que servisse para customizar, um ferro de passar roupa, e uma tábua de passar. Em suma, eu parecia que tinha sido despejada pelo marido e estava esperando para tomar uma resolução entre virar uma sem-teto ou me juntar aos sem-terra.

Dia 1. Sets no bairro do Jordão Baixo com pessoas da comunidade dando depoimentos: tira a malinha da van, passa a roupa, veste a repórter. Tira um malão, separa três pólos de cores diferentes para os três depoentes que haviam sido escolhidos. Fica no set (ao ar livre, no meio de uma mega obra da empresa) para ver se a gola de um não torcia, se não ficava aquela pizza de suor embaixo do braço do outro e volta para casa parecendo um camarão de tão vermelha do sol. De-ta-lhe: eu havia passado protetor solar 30.

Dia 2. Sai de casa às 5:30 da manhã, encontra com o resto da equipe na produtora. Agora além de todas as malas ainda tem a minha e mais uma frasqueira. Junta todo mundo, começa a viagem. Primeira parada uma horta entre Recife e Gravatá. Chuva que Deus deu e todo mundo esperando para sair o sol. Saiu, filma, corre, entra na van e vai para uma obra perto de Caruaru para outra filmagem, passa roupa, veste repórter, senta no set, assiste, pede PELOAMORDEDEUS para a repórter não ficar se encostando nos ferros da obra porque a camisa dela era BRANCA e no próximo set se a blusa tivesse suja eu ia receber um Justus e ia estar DE-MI-TI-DA. Dorme e Caruaru.

Dia 3. Todo mundo com as malas na van. Continua em Caruaru. Mil sets em Caruaru. A casa mais linda que vi na minha vida. Repórter de folga, mas tive que vestir tanta tiazinha que vocês não tem noção. Éramos eu e o maquiador fazendo tiazinha em PG. E tome set, e tome filmagem, e tome tiazinha, e tome lugar lindo, e tome Alto do Moura, e tome viagem. Dormimos em Salgueiro.

Dia 4. Malas na van (perceba o quesito cigano que isto está se transformando), filma em Orocó, vai para Santa Maria. A vila mais linda que vi na vida. O São Francisco povo NÃO VAI bater no meio do mar, o São Francisco É o mar. Muitas tiazinhas, vózinhas e teens para vestir. Gente do lugar. E para mim a cena mais linda de todas, uma criança brincando em uma bacia com o São Francisco todo brilhando com o sol de fim de tarde ao fundo da imagem. Por mim, meu povo, eu ficava lá para toda a vida. Mas NÃO, seguimos para uma fazenda de gado em Santa Maria da Boa Vista, e eu que achava que já tinha visto tudo me enganei. A paisagem mais insólita, mais sertaneja, mais tudo que há nessa vida. Uma calma do tamanho do mundo. Um povo simples. Vaqueiros de gibão. Amor. Amor e paz. E vento e sol. No sertão o sol deve resvalar nas árvores, porque não tinha bloqueador solar que me fizesse sentir que o sol não estava queimando até meu útero. E os vaqueiros meu povo, deus me livre, que coisa linda. E o sol batendo no meio daquelas árvores do sertão....Sertão = amor. No final, todo mundo já acabado, sujo de terra, a dona das "terras" pessoa simples e encardida se vira para a produção e diz: fizemos uma buchada de bode, um guizado e um picadinho de miúdo para vocês. Se eu jogasse no lado azul da força eu casava com aquela senhora encardida e agradável naquele momento. Eu nunca vi tanta comida em uma mesa, e uma garrafa de aguardente claro. Devemos ter comido mais que os bois, e fomos dormir em Petrolina. Chegamos mortos, felizes e fomos comer em Juazeiro que já é na Bahia, atravessamos o São Francisco por uma ponte, rimos, bebemos e desopilamos na beira do rio. Foi mágico.

Dia 5. Filmagens em Petrolina. Várias. Porções. Crianças a dar com o pau em uma. Várias tiazinhas, outra obra. E eu, minhas malas, a tábua e o ferro. E o povo da elétrica que é deus arrumando uma tomada que ligava em um caminhão para que eu passasse as roupas no meio do nada. Povo da elétrica, amo vocês, me salvaram quando eu achei que fosse ligar meu ferro no meu nariz. Obrigada. Largamos mais cedo e fomos para a Ilha do Rodeadouro. Vocês já devem ter visto mil coisas lindas, tente pensar em uma viagem de balsa pelo São Francisco até uma ilha com bares na areia e o rio como praia. Muita cerveja (porque era folga) muitas risadas e confraternização. Foi lindo lindo lindo. Só digo uma coisa, me disseram que quem tomasse banho nas águas do rio ficava altamente fértil, e eu comecei a tomar dois anti-concepcionais por vez depois disso. hahahaha Dormimos em Petrolina de novo.

Dia 6. Sai de Petrolina rumo a Bodocó, uma locação em uma obra. Beijos e abraços, a trupe se separa, metade fica em Petrolina para fazer as filmagens aéreas e voltar para Recife. Segui com o povo de van de volta para Recife. Dormimos em Salgueiro (de novo). Meu quarto era o quarto mais arco-íris de todos. Quarto quádruplo, duas mulheres (eu e mais uma), o maquiador (muléééé) e a amiga homem. Gargalhadas no quarto era pouco.

Dia 7. Sai de Salgueiro e chega em Recife. Sem filmagens. Chegamos às 16:00. Mas comprei queijos para o meu amor no meio do caminho. Saudades? Imagiiiiina...eu tava quase morrendo. Melhor momento do dia: ver o rosto do meu bem do outro lado da porta. Pior momento do dia: não poder pegar Mini na casa da minha mãe porque as filmagens do dia seguinte iam começar cedo demais. Chorei horrores com Mini no telefone só de saudade.

Dia 8. Volta ao Jordão Baixo porque o diretor achou que as filmagens do dia 1 não tinham ficado do jeito que ele queria. Dia INTEIRO filmando. Se eu achava que tinha vestido muita tiazinha, coitada de mim, vesti o triplo nesse dia. Corremos contra o por do sol o dia INTEIRO. Mas conseguimos, foi lindo, último set, o diretor disse: VALEU e uma equipe de 20 pessoas começou a aplaudir enlouquecidamente, acabou.

Morri de saudades do meu amor, morri de saudades da minha filha, mas faria tudo de novo. Aí no caminho de volta para cara recebo uma ligação, a notícia? Amanhã lá vou eu produzir figurino de novo. Pelo menos é só até as 17:00 e aqui em Recife, vou passar o final de semana com meu bem e minha filha. 5:30 da matina tô saindo de casa. E eu achava que acordava cedo quando ensinava, doooooce ilusão.

Beijos e lambidas de uma barata que saiu de Recife uma européia (branca que só parede) e voltou de viagem uma sertaneja (completamente curtida de sol, mas só do peito para cima).

PS- Reli o texto hoje (21.05) e percebi que ele está cheio de erros de pontuação, muitos, em demasiado. Vai ficar assim, escrevi cansada, recém chegada de uma viagem longa e foi de coração. Perdão pelos erros, espero que não atrapalhem a emoção.

9 comentários:

  1. Pra quem ia simplesmente parar, hein?

    Teu post não conta nada, mas conta tudo o que há de importante. Já te imaginei no meio de um livro do Guimarães Rosa.

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  2. que lindo, Xuxu.
    viagem linda é essa, que toooooooca nosso coração.

    e mesmo assim eu só pensando em quando é que essas roupas seriam lavadas. HAHAHA.

    =*

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  3. Te imaginei lavando a roupa no são Francisco, amiga! Saudade de tú, tatú. imagino que a viagem tenha sido mesmo linda. Beijitos.

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  4. Aaahhh que lindo, Barata :D
    Se puder, coloca fotos depois?
    Morro de vontade de fazer uma viagem assim pelo sertao, soh que sem a correria do trabalho e vestir as tiazinhas, claro ahahaha
    Bjuss

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  5. Erro de pontuação? Deve ter... Sempre tem, quando a gente escreve correndo. Mas sabe que eu li e nem vi nenhum? :-)
    Saudadesssssssssssss

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  6. Amigaaaaa! agora entendo tudo rsrsrs to morta de saudades e de felicidade por essa tua correria toda. Quando tiver tempo, manda um sinal de fumaça para nos falarmos. Saudades mil. TE AMO! Bjo!

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  7. Um texto lindo desses, quem se importa com erros de gramática...
    Há braços!!

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  8. Nossa! Que saudades de te ler!!! Hihihihihi

    Que texto gostoso, meu Deus!

    Tanta ternura, que nunca vi!

    Fiquei com vontade de ir também!

    Passou um filminho na minha cabeça, de cada dia citado por você! hihihi

    Muito bom!

    Beijocas!

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